Por João Rodrigo Weronka
É curioso observar como algumas igrejas evangélicas tem
facilidade em aceitar novidades. E é triste verificar a falta de empenho dos
cristãos em observar as Escrituras e analisá-las com sensatez e cuidado. Triste
também é saber que poucas são as igrejas que motivam seus membros ao estudo sistemático
da Bíblia, ao aprofundamento teológico, a formação de grupos de estudo e
discussão sobre as doutrinas cristãs e que verifiquem na Bíblia se as coisas
realmente são como é pregado.
Aliás, não é pecado analisar se os ensinos e a
pregação estão em conformidade com as Sagradas Escrituras (Atos 17.10-11).
Dentro
desta miscelânea de revelações e novidades que temos observado, é importante
expressar-se sobre o caráter das revelações:
1) as revelações nunca deverão ser colocadas acima da
Bíblia. A Bíblia é a palavra final e
autoridade máxima, já que se trata da inerrante Palavra de Deus;
autoridade máxima, já que se trata da inerrante Palavra de Deus;
2) Se a revelação está em desconformidade com a Bíblia,
descarte imediatamente tal revelação. Deus não é Deus de confusão (1 Coríntios
14.33) As experiências pessoais não podem ser colocadas acima das Escrituras
Sagradas, pois estas já contêm a revelação do propósito de Deus ao homem.
Nestes tempos de tantas novidades, algo chama atenção de
maneira muito preocupante na história recente da igreja: trata-se do Apostolado
Contemporâneo, ou Restauração Apostólica. Muitos têm se levantado como apóstolos
nestes dias. Apóstolos ungindo apóstolos e criando uma hierarquia apostólica.
Alguns pastores que, talvez por se sentirem menores que seus colegas de
ministério que foram ungidos como apóstolos, ungem-se a si mesmos e se
autoproclamam apóstolos. Não há fundamento para o chamado ministério apostólico
contemporâneo pelo simples fato do mesmo não possuir respaldo bíblico.
O TERMO:
Segundo o Dicionário Bíblico Universal, o termo apóstolo
"significa mais do que um 'mensageiro': a sua significação literal é a de
'enviado', dando a idéia de ser representada a pessoa que manda. O apóstolo é
um enviado, um delegado, um embaixador" (Buckland & Willians, p. 35) .
A Bíblia de Estudode Genebra também aplica esta descrição, dizendo que apóstolo
"significa 'emissário', 'representante', alguém enviado com a autoridade
daquele que o enviou" (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).
A FRÁGIL SUSTENTAÇÃO:
Aqueles que defendem esta frágil posição, têm se sustentado
principalmente na má interpretação do texto de Efésios 4.11 para o uso do
ministério apostólico para nossos dias. O texto de Efésios 4.11 diz: "E
Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres".
A REFUTAÇÃO:
As regras mais simples de hermenêutica nos ensinam que os
textos sagrados nunca devem ser tirados de seu contexto. E no contexto da
epístola de Paulo aos Efésios, temos no capitulo 2 o texto que prova que este
ministério não mais existe. Antes de citar o texto, é importante refletir:
quando um prédio é construído, o que é feito primeiro? As paredes ou a fundação
da obra? É obvio que todo alicerce, toda fundação é feita em primeiro lugar.
Não é possível construir as paredes e no meio das paredes fazer a fundação. Efésios
2.19-20 diz: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos
dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular".
Cristo é a pedra angular e os fundamentos foram postos pelos
apóstolos e profetas. Os evangelistas, pastores e mestres são os responsáveis
pela construção das paredes desta obra. Como bem explica Norman Geisler
"De acordo com Efésios 2.20, os membros que formam a igreja estão
'edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas'. Uma vez que o
alicerce está pronto, ele não é jamais construído novamente. Constrói-se sobre
ele. As Escrituras descrevem o trabalho dos apóstolos e dos profetas, quanto à sua
natureza, como um trabalho de base" (Geisler, p. 375).
A Bíblia registra o uso do termo apóstolo a outros
personagens. Russel N. Champlin explica que "há também um sentido não
técnico, secundário, da palavra ´apóstolo´. Trata-se de uma significação mais
lata, em que o termo foi aplicado à muitas outras pessoas, nas páginas do NT.
Esse sentido secundário dá a entender essencialmente ´missionários´, enviados
dotados de poder e autoridade especiais" (Champlin, p. 288, v. 3). Nesse sentido o
Ap.Paulo chamou a alguns irmãos por apóstolos seguindo este termo não técnico:
Personagem/ Texto:
Tiago irmão do Senhor: Gálatas 1.19
Epafrodito: Filipenses 2.25
Apolo: 1 Coríntios 4.9
Andrônico e Junias: Romanos 16.7
No contexto de Efésios 4.1, Paulo não estava se referindo a
estes homens, mas sim aos 12, Matias (que substituiu Judas Iscariotes), e a si
mesmo. Estes compunham, juntamente com os profetas, o fundamento da igreja
(Efésios 2.19-20).
Existiam duas exigências fundamentais para que um apóstolo
fosse reconhecido para tal função:
1) Ser testemunha ocular da ressurreição de Jesus Cristo
(Atos 1:21-22; Atos 1.2-3 cf. 4.33; 1 Coríntios 9.1; 15.7-8);
2) Ser comissionado por Cristo a pregar o Evangelho e
estabelecer a igreja (Mateus 10.1-2; Atos 1.26).
Assim como Matias, que passou a integrar o corpo apostólico
por ser uma testemunha, Paulo, que se considerava o menor, por ser o último dos
apóstolos, contemplou a Cristo no caminho de Damasco (Atos 9.1-9; 26.15-18), onde
ocorreu o início de sua conversão. Ou seja, ambos preenchem os pré-requisitos
para tal função. No entanto, os que se intitulam apóstolos em nossos dias não
se encaixam nos padrões bíblicos que validam o apostolado.
É interessante que, enquanto o Ap. Paulo refere-se a si
mesmo como "o menor dos apóstolos" (1 Coríntios 15.9), os atuais
apóstolos tem por característica a fama e a ostentação do título. Tudo é
apostólico! A unção é apostólica! Os eventos são apostólicos! As músicas são
apostólicas! Nem de longe se assemelham com a humildade dos apóstolos bíblicos.
Eventos, cultos e seminários se tornam mais interessantes quando a presença do
Apóstolo Fulano é confirmada. É um chamariz: "venha e receba a unção
apostólica diretamente do Apóstolo Beltrano". Tais apóstolos têm se
colocado como super-crentes, uma nova e especial classe da igreja, a elite
cristã dos tempos modernos. Hoje existe de tudo um pouco neste balcão mercantil
da fé: Apóstolo do Brasil, Apóstolo da Santidade, Apóstolo do
Avivamento e até mesmo o mais popular apóstolo brasileiro, chamado por muitos
por "Paipóstolo".
Existem hoje ministérios com características apostólicas, no
sentido das missões (envio) e no estabelecimento de igrejas. No entanto, isso
não faz de ninguém um apóstolo nos padrões bíblicos. A forma como Wayne Grudem
explica esse fato é muito esclarecedora: "Embora alguns hoje usem a
palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso
não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde que lê o Novo Testamento
e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de 'apóstolo'. É digno de nota
que nenhum dos grandes nomes na história da igreja - Atanásio, Agostinho,
Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield - assumiu o título de 'apóstolo' ou
permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem
atribuir a si o título 'apóstolo', logo levantam a suspeita de que são
motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de
excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer
outra pessoa deve corretamente ter". (Grudem, p. 764).
É equivocado aplicar o termo "apóstolo" para
ministros contemporâneos. A Bíblia de Estudo de Genebra concluí que "Não
há apóstolos hoje, ainda que alguns cristãos realizem ministérios que, de modo
particular, são apostólicos em estilo. Nenhuma nova revelação canônica está
sendo dada; a autoridade do ensino apostólico reside nas escrituras
canônicas" (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).
Tamanho o fascínio que os crentes possuem por essa
Restauração Apostólica, gera preocupação nas lideranças mais sóbrias. Vale
citar as sábias palavras de Augusto Nicodemus Lopes: "Há um gosto na alma
brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a
aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos
autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la
na fogueira." (Lopes, cf. blog do autor).
CONCLUSÃO:
Os ofícios que o Novo Testamento expõem para a igreja, para
aqueles que compõem sua liderança, são: Apóstolos, Pastores (ou Presbíteros, ou
Bispos - já que todos os termos representam a mesma função/ofício - Tito 1.5-7;
Atos 20.17,28) e Diáconos. Esta Restauração Apostólica não encontra subsídio bíblico
ou histórico, portanto, levando em conta este contexto, e considerando
principalmente que Paulo foi o último apóstolo, conclui-se que não existem
apóstolos em nossos dias. Cabe a igreja de nossos dias, exercer suas funções
sem invencionices e modismos, seguindo o puro e verdadeiro Evangelho.
Púlpito Cristão
Referências:
Buckland, AR. e Willians, L. Dicionário Bíblico Universal.
São Paulo: 2001. Editora Vida
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo: 1999. Editora
Cultura Cristã
Geisler, N. e Rhodes, R. Resposta às Seitas. Rio de Janeiro:
2004. CPAD.
Champlin, RN. O Novo Testamento Interpretado Versículo por
Versículo, v. 3 e 4. São Paulo: 2002.
Hagnos Grudem, W. Teologia Sistemática. São Paulo: 1999.
Edições Vida Nova.
AGIR - Agência de Informações Religiosas - www.agirbrasil.com
Augusto Nicodemus Lopes - http://tempora-mores.blogspot. com