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15 de nov. de 2011

Cristianismo personnalité


“Você é especial!
Quem te deu a vida destruiu a forma, não tem outro
igual.
Você ainda não perdeu!
Você não é folha, você é alguém no coração de Deus”.



O sucesso das paradas gospel
reproduzido acima demonstra muito bem o que se passa na cabeça da crentaiada
Brasil afora. Um desejo incontrolável de se ver como a última bolacha do pacote
causa um verdadeiro frenesi nas igrejas brasileiras, principalmente na maioria
pentecostal. Como eu sou um deles, conheço bem o gado a que pertenço.

Para essa turma, a igreja deve ser um
verdadeiro Itaú Personnalité (ou BB Estilo, Santander Van Gogh, Bradesco Prime
ou coisa que o valha). Tal e qual esses serviços bancários para correntistas
top de linha, com rendas gordas e depósitos e investimentos idem, tudo deve ser
exclusivo. Pra que enfrentar fila e ser atendido por um preposto qualquer, se
eu posso chegar diretamente na mesa do gerente, ser servido em salva de prata
com água gelada e café expresso e dizer o que eu quero, e pra ontem? Da mesma
forma, eu lá preciso orar para ter o que eu quero? Eu sou filho do Rei! Tenho
que ter tudo do bom e do melhor! O pastor que se vire para forçar Deus a
satisfazer os meus desejos! E ai dele se isso não acontecer, porque esse dízimo
ele perde!

Em parte, esse desejo de exclusividade
é compreensível: trata-se de um traço da nossa identidade nacional. O
jornalista Vladimir Safatle arrazoou a respeito no artigo “Inflação de
Prestígio”, publicado na Folha de São Paulo, no último dia 18, que repercutiu
na blogosfera local, em análise tão excelente quanto a anterior, da lavra do
também jornalista Plínio Lins.
A nossa classe média mais antiga gosta de ser cobrada a mais por serviços cujo
preço real é bem menor. Parvoíce? Não. “É o preço da exclusividade”, dizem.
Dessa forma, se sentem mais importantes ainda, enquanto depauperam suas
finanças já comprometidas e estimulam a espiral inflacionária, que afeta
principalmente os mais pobres.

Já no meio evangélico, o desejo de
tratamento principesco se dá por motivo diametralmente oposto. Muitos de nossos
conservos vêm de estratos humildes da sociedade, e diuturnamente sofrem
humilhações covardes do mundo que os rodeia, tanto por serem servos de Deus,
como pela sua condição social e econômica. Sabendo que servem a um Deus que
tudo pode, e tomando passagens bíblicas fora de seu real contexto, nasce em
seus corações um desejo revanchista e soberbo contra a sociedade que os oprime,
e a vã confiança de que o Senhor irá se curvar a seus caprichos, tudo em nome
de uma suposta justiça distributiva celestial.

Nada mais falso. É óbvio que nos
servimos ao Todo-Poderoso, e ele poderia nos fazer ricos, se assim desejasse.
Poderia, da mesma forma, nos poupar de sofrimentos “inúteis” e nos entregar a
um estado de delícias aqui mesmo neste mundo. Tratar-nos, em suma, como os
príncipes que somos por adoção. Mas a palavra da cruz é loucura (I Co. 1:18), e
subverte nossa lógica miseravelmente cartesiana. Ora, segundo a Bíblia, quem
são os nossos heróis? Quais são os nossos referenciais? São homens e mulheres
que, de acordo com Hebreus 11: 35-38.

Foram torturados, não aceitando o seu
livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram
escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados,
tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de
cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.

Achou pouco? Tem mais: o padrão bíblico
para o cristão autêntico é a humildade. Não apenas como modus vivendi
cotidiano, mas tambem como testemunho para os não-crentes. Alem da recomendação
para que estejamos satisfeitos com o que possuímos (I Tm. 6:8), o Senhor nos
alerta para a busca desenfreada por riquezas (I Tm. 6:9), para os perigos de
amar o dinheiro (I Tm. 6:10), e talvez o mais importante, para os riscos que
correm aqueles que consideram ser mais do que realmente são: “a soberba precede
a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” (Pv. 16:18).

Se, repito, se nos vier riqueza e
conforto, isso será fruto da nossa obediência e submissão à Santíssima
Trindade, que abençoará, como bem lhe aprouver, o nosso trabalho, sem barganha
alguma (Sl. 128). Soberba é pecado para qualquer um, até mesmo para os que
possuem poucos ou nenhum bem. Deus não se agrada do coração de alguém que se
acha o rei da cocada preta, mas de um coração contrito (Sl. 51:17), que não se
considera nada além de servo, e é feliz por isso.

Em contraste com a musiquinha “pra
alegrar o povo” reproduzida no início deste texto, deixo para os leitores a
bela composição “Espinhos”, do grupo Logos, essa sim uma verdadeira louvação a
Deus e ao que a Sua Santa Palavra nos ensina.


Senhor Jesus, eu não entendo o espinho,
Mas se a cruz é o Fim deste caminho,
Dá-me mais graça.
Não sou maior que meu Senhor;
Apenas servo sou,
Apenas servo e nada mais.
Se as pontas aguçadas da coroa
Te feriram, ó Cabeça,
Eu, que sou corpo,
Parte do teu corpo,
Não devo reclamar.
Dá-me mais graça, Senhor,
Dá-me mais graça!
Passa os teus dedos nos meus olhos,
Vem me consolar.
Dá-me mais graça, Senhor,
Dá-me mais graça!
Faze-me em Cristo outra vez,
Ser mais que vencedor.
Senhor Jesus, ainda não entendo o espinho,
Mas se o mesmo faz parte da tua cruz,
Eu o aceito.
Não sou maior que meu senhor
Apenas servo sou,
Apenas servo e nada mais.
Senhor, se estou por ti sendo provado,
Eu quero aprovado ser agora!
Sei o que tens a dizer,
E creio nisto também,
Basta-me a graça.
Dá-me mais graça, Senhor,
Dá-me mais graça!
Passa os teus dedos nos meus olhos,
Vem me consolar.
Dá-me mais graça, Senhor,
Dá-me mais graça!
Faze-me em Cristo outra vez, (3x)
Ser mais que vencedor.
Um vencedor em Cristo!

Créditos: Thiago Lima Barros
http://www.genizahvirtual.com